Isso é tudo que resta quando precisa se esconder para ajudar
É o olhar de longe para não ser notado, querendo ser notado
É o torcer calado, rezar pra chuva passar depressa e aquecer seu dia
É o sofrer calado, rezar pra chuva cair de novo e esquecer que um dia
Pediu pra não chover
É imaginar, inocente, que se doa o que se tem, o que se sente
É um querer, displicente, olhar para o lado errado, ver o que não quer ver
É amar e sentir culpa, levantar a vista e cair no chão ao perceber que o abraço
Estava para lá, em outra mesa, em outra dança
É perceber que o que não se tem aqui é por evitar, por não saber dançar
Mas dói saber que na outra mesa, na outra dança, os passos continuam iguais
Eu sou só
E isso tudo é a minha solidão
É minha parceira fiel, que jamais me abandona
É ela quem me guia quando me perco na multidão
Foi ela quem disse para a Vida:
"Ensine o menino a ser só, porque assim sempre será"
E assim sempre foi.
Meu melhor amigo sequer existiu
Meu tato sequer sentiu
Tudo aquilo que toco, toco com leveza
Toco por cima
E só me aprofundo em mim mesmo
E nesse brincar de avestruz
Haverá um dia em que me vire do avesso
Assim talvez os outros saibam o que há aqui por dentro
E alguém diga à Vida:
"Ensine a solidão a ser menino!"
E então ela perceba que todo menino precisa ser homem
E nenhum homem é uma ilha
Aos menos assim alguém cantou...
Sobrevivo
Há 6 anos