Algo eu digo:

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Do Insone

Minha insônia
Não reclama uma cama
Mas os teus lençóis.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Cantiga da moda

Eu chorei e chorei e de chorar fiz um mar
E nele pus um barquinho só de papel
Desses que um só vento é capaz de afundar
Ou até mesmo levar para o céu

E eu chorei e chorei, triste a acenar
"Ô, pobre barquinho, me leva também"
Mas sou eu quem acena ou é ele, no mar?
Ai, se eu pudesse acenar mais além

Eu chorei e chorei por não mais saber
Se era a chegada ou era a partida
E mesmo o choro, não sei mais dizer
Se é por ânsia da volta ou por medo da ida

Não choro, não choro - não sei mais nadar
Pra alcançar o barquinho. "Que vem ou que vai?"
Não fique à deriva, senão vou afogar
E não aguarde o vento: "Vá! Navegai!"

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Ao pranto meu no rosto teu

Eu vou perguntar
Alguém responda, por favor

- Por que me fere tanto
A lágrima no rosto do meu amor?


- Se não é culpa,desdita ou desdém
Saudade, temor ou raiva, também
É porque aquela é uma lágrima minha
No rosto de um outro alguém

-------------------------------------

Pinga, goteira
Mas pinga em mim
Pois quando pinga
N'outra casa
Seca mais
O meu jardim

-------------------------------------

O que eu quis dizer
com "O que os olhos não vêem,
o coração não sente"?
É que não te ver chorar
Mas ainda assim saber
Deixa meu coração dormente
Só de tanto doer



sábado, 24 de janeiro de 2009

Apenas dez segundos

Se lembre quando eu perguntar
Que falei: "não adianta se esquivar"
O espelho pode se esconder
Mas o reflexo sempre vai estar
No mesmo lugar que eu deixei
Só esperando eu me assanhar

Talvez seja frio ou mesmo orgulho
Mas dessa vontade em que me embrulho
Dez segundos são pra me acalmar
Neste instante eu então mergulho
No restante, apenas vasculho
Tudo aquilo que me podes dar

Sorrisos, fugas e vontades
E toda aquela castidade
Que só nos olhos moços há
Graça, amor e festividade
Se não é, aparenta estar
Nessa vaidosa brutalidade

Meio-dia, meia-noite, meio tarde
Tarde é nunca e nunca é tarde
Para então me aconchegar
Em um abraço meio aberto
Meio bobo e todo incerto
Mas só ele pra me acalmar

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Adivinhas

O que é, o que é?
Cai em pé
E corre deitado?

Se não é chuva, o que é?
É tudo aquilo
Que foi deixado de lado

É jazigo ou mulher?
Ou sussuro de amor
Ainda mais abafado?

É um delírio qualquer
Um devaneio sem lei
De um réu investigado

Nenhum destino sequer
Para alguém procurar
Sob o arco-íris anunciado

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Geometria

Dicotomias a parte
Eu quero mesmo é o futuro
Nem direita nem esquerda
Eu quero linha reta
Daquelas que constroem flechas
Tempos e amores
Ah! Mas o amor é uma linha curva
E o que é uma reta se não uma curva infinita?

L

Pensando ser inteiro
De metade eu vivia
Preso no cativeiro
Da metade que eu
não via. Agora vejo
Passarinhos em
furta-cor. Furtam
tudo: meu sorriso,
meu milagre, meu
amor. De inicio,
arredio. Mas no
meio, transbordei:
exagerei, mas
nunca vazio. Se errar, que seja por exceder.
Pra não olhar pra trás, pro que não foi, e me
arrepender. É o fim? Alguém então me per-
gunta. Àquela a quem quero disposta e a quem
deveria ter feito defunta, é com quem deixo a
resposta, se nossas metades se juntam.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Sobre minha saudade

Das palavras que eu não disse e das que nunca direi
sinto saudade.
Também dos amigos que não fiz ou das bocas que não beijei.

Do tropeço não dado ou das palmadas não tomadas
sinto saudade
E choro por lágrimas enxugadas e pelas não choradas.

Do passado onde eu pude ou do futuro em que eu poderia
sinto saudade
Assim como das velas assopradas ou das que assopraria

Das despedidas ou das chegadas.
sinto saudade
Ou ainda das coisas que não me foram dadas.

Mas minha maior saudade não é do "beijei", "chorei" , ou do "partí"
sinto saudade mesmo
Da saudade que não senti


quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Tenho algo em minhas mãos que de tão precioso me embarquei em um dilema que não parece ter fim: se seguro com muita firmeza e aperto mais e mais para que não escape das mãos, corro o risco de partí-lo no meio e desmanchá-lo como sonho de padaria no céu da boca. Por outro lado, se afrouxo os dedos, posso deixá-lo escapar como sonhos da minha vida no céu que nunca alcanço.

Parece triste mas o que me enxarca agora é felicidade. Acho que me aproximo cada vez mais da cadência necessária ao meu tato - ou quem sabe a cadência nada mais é do que um resgate ou uma fuga.

Um resgate da firmeza que outrora tive nas mãos. O andar pela praça com as mãos cheia de dedos que não eram só os meus. O acariciar que não machuca nem hesita, mas que se faz sentir.

Ou a fuga disso tudo. A perda da chance de hesitar ou machucar. A acidez que é a boca para o sonho da padaria. A acidez que se tornou minha boca para meus próprios sonhos.

Se peco são pelos excessos. Mas excesso mesmo é não pecar. É não se arriscar, mas também é não se preservar. É não correr, é não andar, é não voar - ou pular de um abismo. É não ter medo de conhecer o novo, é não ter medo de perder o velho, é não deixar o novo ser velho ou insistir em renovar. É se recusar a voltar de onde veio ou partir para onde não se vai. Afinal, pra onde vou senão na direção da sombra que me acolhe?

Excesso é toda e qualquer excessão. Exceto eu, exceto nós. Somos eternos assim como todos os outros. Somos jovens assim como todos os velhos já foram e disseram um dia. Somos capazes assim como fomos incapazes e somos medrosos nos fim assim como fomos corajosos no começo.

Somos excessão apenas por sermos únicos no nosso mundo, no mundo que criamos para nossos excessos.

E se me excedo no apertar ou no soltar, é apenas por me exceder no querer ou no desistir. E querer de mais ou desistir de vez, isso sim é pecar. Porque ou pulamos longe de mais do abismo, ou nos seguramos na pedra mais segura: talvez o chão esteja longe.
Palavras espremidas do sertão das minhas falas
Ditas, cuspidas na sala e juntadas do chão
Pois não sou poeta, não sou cantor
Não sou artista, nem compositor
Mas tenho o mote, o lápis e o apontador
E um coração

Gotas espremidas do sertão do meu querer
Pingadas, escorridas pelo meu deserto profano
Afogando suas mágoas e lavando sua alma
Trazendo tempestade onde antes tinha calma
E tornando o que antes cabia numa palma
Em oceano

Faço verso, faço arte
Faço juras e faço verdades
Faço tudo pra não errar
Mas erro mais e mais
Faço guerra e faço paz
Enquanto você me faz

Se sou o que agora sou
É porque fui forjado no teu calor
Se onde havia pedra, hoje há emoção
É porque me esculpiu no carinho de tua mão
E além de tudo você ainda faz
Um oceano em meu coração







[a ela... com amor]