Algo eu digo:

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Tenho algo em minhas mãos que de tão precioso me embarquei em um dilema que não parece ter fim: se seguro com muita firmeza e aperto mais e mais para que não escape das mãos, corro o risco de partí-lo no meio e desmanchá-lo como sonho de padaria no céu da boca. Por outro lado, se afrouxo os dedos, posso deixá-lo escapar como sonhos da minha vida no céu que nunca alcanço.

Parece triste mas o que me enxarca agora é felicidade. Acho que me aproximo cada vez mais da cadência necessária ao meu tato - ou quem sabe a cadência nada mais é do que um resgate ou uma fuga.

Um resgate da firmeza que outrora tive nas mãos. O andar pela praça com as mãos cheia de dedos que não eram só os meus. O acariciar que não machuca nem hesita, mas que se faz sentir.

Ou a fuga disso tudo. A perda da chance de hesitar ou machucar. A acidez que é a boca para o sonho da padaria. A acidez que se tornou minha boca para meus próprios sonhos.

Se peco são pelos excessos. Mas excesso mesmo é não pecar. É não se arriscar, mas também é não se preservar. É não correr, é não andar, é não voar - ou pular de um abismo. É não ter medo de conhecer o novo, é não ter medo de perder o velho, é não deixar o novo ser velho ou insistir em renovar. É se recusar a voltar de onde veio ou partir para onde não se vai. Afinal, pra onde vou senão na direção da sombra que me acolhe?

Excesso é toda e qualquer excessão. Exceto eu, exceto nós. Somos eternos assim como todos os outros. Somos jovens assim como todos os velhos já foram e disseram um dia. Somos capazes assim como fomos incapazes e somos medrosos nos fim assim como fomos corajosos no começo.

Somos excessão apenas por sermos únicos no nosso mundo, no mundo que criamos para nossos excessos.

E se me excedo no apertar ou no soltar, é apenas por me exceder no querer ou no desistir. E querer de mais ou desistir de vez, isso sim é pecar. Porque ou pulamos longe de mais do abismo, ou nos seguramos na pedra mais segura: talvez o chão esteja longe.

6 comentários:

  1. 'E querer de mais ou desistir de vez, isso sim é pecar. Porque ou pulamos longe de mais do abismo, ou nos seguramos na pedra mais segura'

    Pecar talvez seja cortar os pulsos e deixar escorrer o sangue que por tanto tempo te alimentou. Se desistir é pecar, eu peco todo dia pela minha covardia de não enfrentar logo o que me causa medo, de não conseguir me olhar de frente no espelho.

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  2. Desistir não é pecar, mas desistir de vez.
    Acho que não podemos nos apegar nem ao "não" definitivo, nem ao "sim" sem temor. Devemos nos contrabalancear e nos equilibrar nessa corda que liga os definitivos.

    Não tow dizendo que devemos encarar as coisas de frente ir irmos de encontro a elas, mas não devemos hesitar quando assim tivermos que fazer, nem tampouco nos esconder para sempe.

    Não devemos pagar para ver sempre, mas também não precisamos economizar nossas quantias.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. É fácil dizer isso. Dificil é viver pagando um preço alto demais e, pior, pagando por mim, pelos outros e a tanto tempo.
    Enfim, não tenta me entender, eu só acho que já machuquei gente demais e já me machuquei demais nessa historiazinha de me jogar. Se podei minhas asas? Não.. ainda estão aqui, prontas pra voar, mas dessa vez na hora certa.

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  5. Acertemos nossos relógios então...





    [eis aqui "ela" e a "mulher" =D ]
    [e ainda me perguntam o porquê...é a fibra...é a fibra...]

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  6. É a fibra da vida que não me deixa costurar esses pedaços de músculos que foram dilacerados.. enfim.. eis-me aqui, sem prazer nenhum para os que conhecem mas tentanto ser transparente em meio aos meus escuros. E não me perguntem mais o porquê, certas questões não foram feitas para serem entendidas, outras se quer respondidas um dia..




    [e tah na hora dessa discussão acabar se n vão eliminar teu blog por soh ter comentários meus!]

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